Poeta André Vasconcelos

Poeta André Vasconcelos
Mensageiro Natural de coisas Naturais

terça-feira, 25 de junho de 2013

Desaparecido Eu




Desaparecido Eu




Era ainda bem novo.
Não sabia e nem conhecia a maldade.
Sempre fui bem receptivo.
Quando criança todo braço era um aconchego.
Não sabia e nem conhecia a maldade.

Minha mãe sempre tão dispersa.
Não acordou cedo e me acharam por uma fresta.
Eu sozinho ao sofá brincando.
Logo cedo bem cedinho.

Ela chegou sorrindo dizendo:
Vem cá menino.
Sem pestanejar eu sai correndo.
Era mais um braço para eu estar.

Não sabia e nem conhecia a maldade.

Fui levado de dentro da minha própria casa.
Em segundos e minha mãe nem viu.
A moça me levou
A viagem foi de navio.

Até ali estava com fome.
Saudade de minha mãe.
Sem conhecer essa saudade.
Mas ela me consome.

Descobri que era uma viagem sem volta.
Quando naquele, pais eu cheguei.
Num quarto escuro fecharam a porta.

Eu chorava muito me faltava o fôlego.
Com fome quase já era a própria morte.
Mas pra que me alongar...
Ninguém quase se importa com meu sumiço.
São mais de 200 mil no Brasil por ano de desaparecido.

Eu só fui mais um.
Sim fui.
Seqüestraram-me.
O trafico era de criança
Mas o que eles queriam mesmo eram meus órgãos.

E assim virei mais uma estatística.

Minha família nunca teve dinheiro.
Nunca tiveram influencia.
O estudo não existia.

Pobre tem que perder.
E ainda tem que agradecer.
Porque isso...
Porque logo com a gente isso veio a acontecer.
Perdi minha mãe...
Meu pai.
Minha família toda.

Alias minha mãe ainda me procura.
Achando que posso estar vivo.
Minha foto ta lá.
No quadro de desaparecidos.
Mas ninguém nem olha
É só mais uma foto.

Desculpe falar a verdade.
Não existe amor em nada. 
E sem amor...
Só existirão caras Maquiadas.

Autor - André Vasconcelos





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