Dona Ana
Dona Ana começa o dia...
Acorda cedo pra alimentar seu
rebento
Café bolacha manteiga nem
todo dia tem ceia.
Mas ela permanece firme.
Sua fé intacta.
Despede-se do filho que vai
para escola.
Às vezes ele engana e cabula
aula.
Mas a maioria das vezes a
desculpa nem cola.
Pensativa lava a louça.
Com todas dificuldades
possíveis.
Sem palha de aço Dona Ana é
só no improviso.
É o dia inteiro enquanto ele
não chega.
Dona Ana fica pensando no
filho.
Depois da louça...
Agora é a roupa.
E esfrega freneticamente, em um
instante.
Encherá o tanque.
Logo após terminar de arrumar
a casa.
Fazer o almoço.
Pra quando seu filho da
escola chegar.
Na contramão esta Vinicius
Filho de Dona Ana.
Cabulou mais uma vez na
escola.
E dessa vez não terá volta.
Foi pego por policiais
Fumando.
Os fardados o levaram
Dizendo que Vinicius estava
armado.
À ponta pé foi jogado.
E os fardados que nunca
tiveram conduta.
Matagal dois tiros na nuca.
Adeus Vinicius.
Talvez...
Estava no lugar errado na
hora errado.
Mas os covardes são mesmos.
Que já tem cinco processos
pelo mesmo atentado.
Policiais safados...
Quem sobrou nessa historia.
Dona Ana que já não come e
nem bebe.
Não lava louça e nem roupa.
Nem limpa mais nada, só fica
no quarto.
Pensando no que fizeram com o
seu filho.
Na missa de sétimo dia.
Dona Ana não agüentou de tristeza.
E teve um fulminante infarto.
Vinicius na contramão da
vida.
Os fardados na contramão do
que Devia.
E dona Ana essa não tem culpa
de nada.
Um filho adolescente...
E uma policia sem escrúpulos
e sem alma.
Dona Ana Dona Ana...
Essa não teve culpa de nada...
Autor André Vasconcelos
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